Reinvenção. Em qualquer âmbito da vida passamos ou precisamos passar por uma reinvenção. O processo pode não ser agradável, mas abre inúmeras possibilidades para sermos inovadores, mas ainda continuarmos sendo os mesmo. É difícil visualizar este conceitos, mas após anos fomentando a mesma fórmula de sucesso, a Marvel precisava de reinvenção, a busca por algo novo, mas que ao mesmo tempo abrisse a porta para novas possibilidades, e a nova fase dessa franquia bilionária foi a primeira série produzida com exclusividade para o Disney+, WandaVision, que trouxe algo nada Marvel em seus primeiros episódios, mas que mostrou que ainda consegue amarrar a fórmula já conhecida a novos formatos, além de expandir o universo a lugares inimagináveis.
WandaVision acompanha o casal Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) vivendo em um bairro inspirado nas sitcoms, após os eventos de Vingadores: Ultimato como um recém-casados; mas já estranhamos quando sabemos que o Visão de fato está morto, e que toda essa comunidade que vive ao redor de Wanda e Visão parecem ter saído das sitcoms como I Love, Lucy, Três é Demais e outras.
Por ser a primeira série oficialmente produzida pela Marvel Studios, que integra a Fase 4, nada mais justo do que ser aquele que presta uma homenagem a própria televisão. WandaVision foca 6 de seus episódios em narrar a história de Wanda e Visão sob as lentes das câmeras que evoluíram com a televisão estadunidense, e principalmente explorando as inúmeras formas de contar histórias que se modificou com I Love, Lucy, e que com o tempo foi se adaptando e se modificando para agregar a seus telespectadores.
Esse é o principal ponto positivo da série: além de entreter, ele leva a uma geração que não conheceu o nascimento do formato que vemos hoje em dia com “clássicas” série sitcoms como Friends, Big Bang Theory, Modern Family e How I Met Your Mother, entre outros, e nos apresenta as percursoras, como a já mencionei duas vezes I Love, Lucy, The Dick van Dyke Show, A Feiticeira, The Brandy Bunch e outras. Do cenário, das técnicas de gravação e o resgate da plateia ao vivo, do vestuário, penteados, dimensão de projeção, WandaVision é um resgate e apresentação para um mundo que se modificou e que começou lá atrás, e que até hoje é um formato que perdura.
Outro ponto positivo está na própria atuação dos protagonistas: Elizabeth Olsen e Paul Bettany. Já conferimos o potencial dos atores em filmes blockbuster, filmes de drama, mas é a primeira produção em comédia – pelo menos em grande escala – que vemos o leque de atuação de ambos. Tem momentos que Paul rouba a cena com sua comédia mais física, e trocadilhos pelo fato de seu personagem ser um robô; tem momentos que Elizabeth rouba a cena pela dimensão de seu controle de expressão nos momentos de comédia caricata focada no rosto, bem característico da personagem de Modern Family, Claire Dunphy (Julie Bowen). Eles conseguiram mostrar a gama de atuação que eles podem fazer e que não fica forçado.
Mas o que o marvete do meu coração mais gostou foi finalmente não precisar reclamar com a Marvel por diminuir ou negligenciar sua personagem favorita. Nunca fora mencionado o alterego de Wanda Maximoff no MCU, e como prometido por Kevin Feige, vimos a adaptação da Feiticeira Escarlate para dentro do universo, de forma orgânica e que não desrespeita mas acrescenta e abre espaço para nos aprofundarmos mais no mundo místico da Marvel agora que finalmente podemos dizer que a Feiticeira Escarlate realmente despertou dentro do MCU.
A Marvel também tratou, em seu melhor episódio – na humilde opinião de quem vos escreve – de um tema muito delicado, e que é o principal ponto que cerca o desenvolvimento da Feiticeira Escarlate nos quadrinhos: o luto e a depressão. O oitavo episódio, quando revisitamos momentos importantes de Wanda que explicam seus poderes, presenciamos sua vida em Sokovia e a perda de seus pais, a perda de seu irmão, os testes da Hydra que despertaram seus poderes, e finalmente o que aconteceu após os eventos de Ultimato, revelando que diferente de todos os Vingadores, Wanda foi a única que não teve para quem voltar, e que sentiu a perda mais uma vez.
Vale ressaltar a quantidade de teorias criadas ao longas dos nove episódios criadas pelos fãs que acompanharam sexta após sexta no Disney+, participações especiais e introdução de novos personagens que agregam ao MCU, além de trazer personagens já conhecidos e ressaltar que eles ainda estão dentro do universo e que podem retornar a qualquer momento. E a cereja do bolo: os comerciais enigmáticos de cada episódios que dava pistas sobre os traumas de Wanda.
WandaVision é, como já mencionei várias vezes, um respiro de ar fresco para o Universo da Marvel – que deve trocar de nome, pois já incluímos a TV, mesmo com o grau de cinematografia na sua produção – uma mudança necessária, ousada e que era necessária para a nova fase que promete alcançar voos mais altos. Ela não é perfeita, mas sua importância como pontapé inicial de uma nova fase ditará uma era de novidades sem precedentes e que darão espaço para personagens diversos, história que entretêm e leva ao telespectador discussões importantes, temas relevantes.
WandaVision
WandaVisionThe Good
- Design de Produção que reconstruiu cenários de séries clássicas de definiram o que conhecemos do formato hoje em dia
- Narrativa que homenageia e mostra o potencial dos atores em comédias mais físicas e de fisionomia
- Tratamento delicado sobre o luto e depressão da protagonista
- Adaptação da personagem dos quadrinhos para dentro do universo cinematográfico e televisivo da Marvel
- Potencial quase infinito de criar teorias e presença de referências e easter eggs na série
- Preenchimento de lacunas na história dos protagonistas que complementam a história e dão mais profundidade a eles
- Revelação final da Feiticeira Escarlate
The Bad
- Último episodio que deixou inúmeros conflitos e problemas para serem resolvidos de forma apressada e que deixou de lado vários personagens